9 de março de 2010

Bons livros


Em "The American Presidency", Gore Vidal faz um retrato breve mas empolgante desde os primeiros presidentes americanos até à época de Bill Clinton. Sem ser fastidioso, até porque o livro é um pequeno volume de menos de 100 páginas, Vidal escreve como só ele poderia escrever com a ironia que lhe é característica e a frontalidade dos seus pontos pontos de vista. Para Vidal o que começou como a República do povo e para o povo, rapidamente se transformou num império para servir o poder económico, império esse que desde a II Guerra Mundial até à actualidade se encontra em declínio.

Não é um folhetim de fanatismo anti-americano, antes uma narrativa cheia de interesse para quem gosta de História e Política, com o toque característico de Gore Vidal.

8 de março de 2010

Dinamite cerebral cinematográfica


Quem acompanha o programa de Pacheco Pereira na SIC Notícias, Ponto Contraponto, sabe o que o quer dizer esta expressão da "dinamite cerebral". Neste caso não se trata de sabermos mais sobre a política, sobre o que se passa no país, mas tão só de saber mais sobre cinema. Mais especificamente sobre a primeira mulher a ganhar o Oscar para melhor realizador, Kathryn Bigelow. Através de um bom artigo publicado no Público, quem, como eu, nada sabia acerca desta realizadora americana, fica com um retrato completo do percurso desta cineasta. Ficamos a saber como começou, as suas influências, e quais os seus principais filmes.

Imagem: Gary Hershorn/Reuters

30 de março de 2009

Esperança ou palavras vãs?


Fez há poucos dias 2 meses que Barack Obama tomou posse como Presidente dos EUA. Ao longo destes 2 meses Obama foi presença assídua na televisão portuguesa. Discurso de Obama a propóstio disto ou daquilo, conferência de imprensa nesta ou naquela ocasião, comentário por isto ou por aquilo. Acho que Obama tem falado bem, tem tido a mensagem correcta, agora resta saber se se vai passar da mensagem para a acção, se o que é prometido vai acontecer. Às vezes fico com a sensação de que Obama faz discursos a mais e não lhe sobrará muito tempo para trabalhar nos importantes dossiers que tem em mãos com a sua equipa.

Aliás nunca percebi os comentários de Freitas do Amaral que disse que Obama mudou mais em 8 dias do que em 4 anos de Bush. Acabou e bem com Guantanamo, mas em tudo o resto, continuamos no domínio das promessas, até porque, como é óbvio, não se mudam as coisas em 2 meses, quanto mais em 8 dias.

Neste particular, de comparação entre Bush e Obama, quando ouvi que Obama iria reforçar o contingente militar no Afeganistão, não pude deixar de pensar no quão hostis seriam as reacções se tivesse sido Bush a tomar essa decisão. Não tenho dúvidas de que rapidamente o apelidariam de Senhor da Guerra. Não ponho em causa a bondade de decisão de Obama, só acho estranho que ninguém a questione.
Quem quiser saber mais acerca da Presidência Obama, há abundante informação oficial em http://www.whitehouse.gov/

27 de março de 2009

Bons filmes

O regresso da lenda viva que é Clint Eastwood não desiludiu. Uma vez mais. Eu acho que ele já não nos consegue desiludir, e ainda bem! No seu Gran Torino, dá-nos uma lição de vida como poucos nos podiam dar. É um final comovente e que encerra uma enorme mensagem neste tempo de tantos relativismos e fugas para a frente, neste tempo, às vezes, desnorteado, de uma sociedade com raízes curtas que lhe permitam agarrar-se com alguma solidez às areias movediças.

E, para variar, uma grande interpretação do antigo pistoleiro sem nome. Se for a última, como se tem dito, então é um grande final. Se não for, tenho a certeza que a próxima será, pelo menos, tão boa como esta.

No final do filme dei comigo a pensar naquelas perguntinhas estúpidas que às vezes se fazem em concursos, ou mesmo em sessões de recrutamento, sobre com que pessoa famosa gostaria de jantar, e dei comigo a pensar que gostaria que fosse com Clint Eastwood! Seria uma conversa inesquecível.

E faço o meu voto para que siga o exemplo de Manoel de Oliveira e continue a fazer filmes aos 100 anos, muitos e bons filmes.

E como já é da tradição, um Eastwood nunca vem só, por isso, já aí está também o filme "Changeling" ou "A Troca", com Angelina Jolie no papel principal.
Site oficial do filme: http://www.thegrantorino.com/

2 de fevereiro de 2009

O discurso

(imagem de Getty Images)

Pois bem, que faziam 2 milhões de pessoas num dia gelado, ainda que ensolarado, espalhadas ao longo de 3km em frente do Capitólio dos EUA? Ouvir o homem que se preparava para tomar em mãos os destinos do seu país.

E que terão ouvido eles? Um bom discurso. Mas tão só. A tal inspiração que procuravam, qual água a jorrar espontaneamente de uma fonte, parece-me que não a encontraram. Não terão ficado desiludidos, terão ficado esperançados, mas julgo que faltou ao Presidente Obama aquele golpe de asa para envolver completamente os seus concidadãos num novo tempo. Aliás, ouvi bem melhor de Obama durante a campanha eleitoral, veja-se, o da noite das eleições, por exemplo. Foi um discurso que teve o tal golpe de asa, a fonte de inspiração, e uma grande imagem de força, o tal "yes, we can".


Mas apesar do discurso de Obama não ficar na História como uma frase chave, tal como os de FDR com seu "the only thing we have to fear, is fear itself", ou de JFK e o "ask not what your country can do for you, but what can you do for your country", não vai ser certamente por aí que se irá avaliar a sua prestação. Há muito para ver ainda.

E depois pode sempre dizer-se, como alguém disse, que se calhar alguma frase do discurso de Obama vai ficar na História, nós é que ainda não percebemos.


No link abaixo está um bom apanhado, pela BBC, da tomada de posse:

23 de janeiro de 2009

Juramento - parte II


O agora Presidente Obama repetiu, hoje, o juramento de fidelidade à Constituição dos Estados Unidos, devido a uma pequena confusão durante o juramento na cerimónia de posse, onde, aliás, foi levado em erro pelo Presidente do Supremo Tribunal.

Algo que se notou no próprio dia, mas nada de mais a assinalar.

Mas esta pequena ocorrência não deixa de me pôr a pensar em relação ao comportamento dos media. Ninguém na imprensa, e bem, a meu ver, deu qualquer relevância ao sucedido, pena é, e mais grave é, quando dão toda a relevância a estas insignificâncias para minar a credibilidade e imagem das pessoas, criando-se um enorme caso à volta de ridicularias sem sentido. Dá que pensar...

(imagem da AFP)

21 de janeiro de 2009

O 44.º Presidente dos Estados Unidos

(imagem retirada de www.bbc.co.uk)

Às 12 horas de 20 de Janeiro de 2009, Barack Hussein Obama tomou posse como Presidente dos Estados Unidos da América. É o segundo natural do Estado do Illinois a chegar à Casa Branca.


Neste link pode ver-se o discurso e o texto do mesmo:

5 de dezembro de 2008

O estado do "quarto poder"

Deixo aqui o link para um excelente texto de João César das Neves sobre o estado do jornalismo em Portugal. Muito da qualidade da democracia de um país depende da qualidade da sua imprensa. A portuguesa dos dias de hoje parece apenas querer viver na espuma do efémero.



(imagem retirada de www.clv.com.au)

12 de novembro de 2008

Manifestações - I

Dispõe a Constituição da República Portuguesa, de 1976, no seu artigo 45.º, n.º 2, "A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.". Este artigo, que tem por epígrafe "Direito de reunião e de manifestação", contém, como está bom de ver, um n.º 1 onde se refere o seguinte "Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização."

Mais atrás, no importantíssimo artigo 18.º, o legislador constitucional deixou plasmado no seu n.º 1, o seguinte: "Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias são directamente aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas." (diferentes tamanhos do tipo de letra da minha autoria)

De notar que o artigo 45.º se encontra sob o Título II - Direitos, liberdades e garantias, e sob o Capítulo I - Direitos, liberdades e garantias pessoais.

Voltarei brevemente a este tema, mas para já, além da força destes preceitos da nossa Lei Fundamental, fica ainda a ideia de que as manifestações não carecem de qualquer autorização dos Governos Civis, tal como se vê pela leitura do artigo 18.º n.º 1.
Mas para já não me adianto mais.

6 de novembro de 2008

O fenómeno Obama - III

Barack Obama venceu as eleições de 4 de Novembro sem margem para dúvidas. Os eleitores acorreram em massa às urnas e deixaram o seu veredicto. E ao darem o mandato ao Senador Obama acreditaram na sua promessa de mudança. Acontece que as expectativas altíssimas e a histeria colectiva que existe à volta de Obama não lhe vão ser nada favoráveis. Dado que o nativo do Estado do Hawai não é o Messias, não irá fazer milagres nos próximos anos, ao contrário do que a emoção exacerbada dos seus apoiantes quer fazer querer.

Barack Obama fez um grande discurso na noite da vitória. Um discurso forte, apaixonado, que lembra os melhores valores da América, enfim um discurso que tem tudo para inspirar os seus concidadãos a esforçarem-se para construirem um país melhor. Espero que o novo Presidente dos EUA não perca o fulgor, e mais, espero sinceramente que me engane quanto ao facto de Obama ser um "embrulho" muito bonito e apaixonante, e no interior ser despojado de conteúdo. Espero sinceramente estar enganado. Mas a partir de 20 de Janeiro de 2009 começo a tirar as dúvidas, quando ele for empossado como o 44.º Presidente do país das oportunidades.

Entretanto, apesar de saber os riscos acrescidos que Obama corre, não deixou de me causar uma certa apreensão que num país com o património histórico de defesa das liberdades individuais e dos direitos civis e políticos, o novo Presidente (assim como qualquer candidato), tenha que ter à sua volta um sistema de segurança quase sufocante. No discurso da vitória, dois vidros à prova de bala envolviam toda a área onde Obama se encontrava.
(imagem retirada de www.thelondondailynews.com)

5 de novembro de 2008

John McCain

No dia do vencedor, falo do vencido. O candidato republicano à presidência dos EUA, John McCain, não era, ao contrário do que muitos ignorantes, e tão fanáticos quanto os fanáticos republicanos que existem, afirmavam, um clone de George W. Bush. Como o seu dicurso de derrota provou, John McCain é um político honrado e sério. Um homem com um grande currículo político, e um herói de guerra que devemos respeitar. Quantos de nós aguentariam um cativeiro de 5 anos e regressariam para uma carreira política digna de 50 anos?
Como já aqui disse anteriormente, as análises da imprensa em geral foram sempre bastante redutoras e simplistas em relação aos dois candidatos, pelo que não me pude considerar tão bem informado quanto poderia estar em relação aos dois homens (e também por não ter tempo para poder investigar mais por conta própria), mas pelas razões que apontei no último post, John McCain mereceria o meu voto se fosse americano.
Pela sua tenacidade, coragem contra adversidade (até no caminho para a nomeação republicana) McCain demonstrou qualidades de sobra para poder estar na Casa Branca. Mas como ele disse ontem, a partir de agora o caminho deve ser o do apoio ao novo Presidente eleito. Aliás, até por aqui se vê a dignidade do candidato. McCain não se bastou a reconhecer a derrota e a dar os parabéns da praxe a Obama, pediu empenhadamente que todos, não obstante as diferenças, ajudassem o novo Presidente, e de um modo muito eloquente falou do quanto foi importante a eleição de Obama em termos históricos. Aliás, e para muitos intelectuais de pacotilha que aí andam fiquem a saber, recordou quando, em 1901 o Presidente Theodore Roosevelt convidou Booker T. Washington (um líder negro que tinha sido escravo até aos 5 anos de idade) para jantar na Casa Branca, a primeira vez que tal aconteceu. E Roosevelt era republicano. Isto sou eu que acrescento.
Gostava até de saber se os discursos de derrota de candidatos democratas como John Kerry ou Al Gore terão sido de tanto fair play e hino ao espírito democrático.


Em suma, John McCain é um político com honra, e isso, neste mundo, é mais importante que qualquer derrota.
(imagem retirada de www.pastemagazine.com)

30 de outubro de 2008

O fenómeno Obama - II

Há algum tempo atrás referi aqui que as análises da imprensa portuguesa em relação aos candidatos à presidência dos EUA pecavam por redutoras e simplistas. De então para cá houve uma melhoria, até pelo maior espaço dedicado às eleições nos vários media, mas podia o trabalho jornalístico ter sido bem melhor. Ainda assim, e porque não tenho tempo para estar ligado 24h por dia à CNN ou outras, considero-me mais esclarecido do que quando escrevi o primeiro post sobre este tema. Realço até um programa de inusitada qualidade, o 60 Minutos, que passa na SIC Notícias (60 Minutes, da CBS) e que fez em menos de uma hora uma interessante viagem à vida dos candidatos e lhes dirigiu perguntas verdadeiramente interessantes na perspectiva do eleitorado.

Resumo as minhas impressões, destes meses de alguma atenção às eleições americanas.
Barack Obama:
excelente orador, tem carisma, consegue prender a atenção como ninguém, tem slogans com que todos concordamos.

John McCain:
ponderado, credível, inspira confiança, demonstra conhecimento dos dossiers e parece bastante mais realista que Obama.

De acordo com as sondagens Obama está com uma vantagem muito confortável e deverá sair vencedor das eleições. Se Obama se tornar Presidente dos Estados Unidos da América resta saber se concretizará a esperança de mudança que ele e todos os seus apoiantes prometem com veemência. Aliás, daqui a 4 anos, no fim do primeiro mandato, lembremo-nos bem do clima de euforia que rodeia a candidatura de Obama, da expectativa quase messiânica com que é anunciada. Não nos tenhamos memória apenas para o que nos convém.
(imagem retirada de www.agoravox.com)